O casamento é, para muitos, a celebração máxima do amor, da parceria e do desejo de construir uma vida a dois. Mas, por trás da cerimônia, dos votos emocionados e da festa, existe uma escolha que costuma ser deixada para o fim da fila – e que, quando chega, pode causar desconforto, desentendimentos e até dúvidas sobre o próprio relacionamento: o regime de bens.
A pergunta é direta, mas sua resposta revela muito mais do que aparenta: você se casaria sem comunhão de bens?
O que significa não ter comunhão de bens?
Optar por um regime sem comunhão de bens – tecnicamente chamado de separação total de bens – significa que cada cônjuge continua sendo o único dono de seus bens adquiridos antes e durante o casamento. Tudo o que for conquistado permanece individualizado, mesmo após anos de união.
Esse regime pode ser estabelecido por meio de um contrato pré-nupcial. Diferente da comunhão parcial de bens (o mais comum no Brasil quando não se define nada em cartório), na qual tudo o que o casal conquista junto passa a ser dos dois, a separação total evita essa mistura patrimonial.
Amor não é negócio… ou é?
Para muitos, só de pensar em falar sobre bens antes do casamento já é desconfortável. “Se me ama, por que está pensando em proteger o próprio patrimônio?” é uma das frases mais comuns quando esse assunto vem à tona.
Há quem veja a separação total de bens como um sinal de desconfiança, frieza ou egoísmo. Mas também há quem considere um gesto de maturidade, transparência e até de preservação da individualidade. Afinal, amar não significa, necessariamente, abrir mão da autonomia financeira.
É preciso entender que regime de bens não é um teste de amor, mas um contrato jurídico que evita conflitos futuros. Se tudo der certo, ele será apenas um detalhe burocrático. Se não der, será a diferença entre uma separação justa ou um campo de guerra.
Casar ou empreender juntos?
Em muitos relacionamentos, especialmente os modernos, os casais trabalham juntos, investem juntos ou constroem negócios em parceria. Nessas situações, o regime de separação total de bens pode parecer contraditório: como garantir igualdade e justiça se tudo está dividido na prática, mas não no papel?
Nesses casos, é possível combinar regras específicas no contrato pré-nupcial, definindo o que será compartilhado e o que permanecerá individual. Tudo pode (e deve) ser acordado com clareza. A pior escolha é não escolher nada.
Questões práticas e culturais
Na prática, a separação total de bens é comum entre casais que:
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Já têm patrimônio antes do casamento;
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Estão em um segundo ou terceiro casamento;
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Têm filhos de relacionamentos anteriores e querem proteger a herança;
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Têm grande diferença de renda ou sucesso profissional;
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São mais independentes financeiramente e emocionalmente.
Por outro lado, é importante reconhecer que, em muitos lares, ainda vigora a ideia romântica (e às vezes machista) de que quem ama não precisa “falar de dinheiro”. Mas amor sem diálogo sobre finanças pode gerar ressentimentos, injustiças e desilusões.
A escolha que pode revelar tudo
Antes de decidir pelo regime de bens, o casal precisa ter uma conversa franca e sem tabus. Mais do que debater patrimônio, essa conversa costuma revelar:
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Como cada um lida com o dinheiro;
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O nível de confiança mútua;
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O grau de independência emocional e financeira;
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As expectativas sobre o futuro;
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O real equilíbrio da relação.
Se o simples ato de sugerir a separação de bens já causa brigas, talvez não seja o regime o problema, mas a relação em si.
E se houver arrependimento?
É possível alterar o regime de bens após o casamento, mas o processo é burocrático, envolve custos e depende de autorização judicial. Por isso, o ideal é discutir tudo com antecedência – sem pressa, sem pressão e com a ajuda de um advogado se necessário.
Casamento é amor, mas também contrato
Muitos casais evitam discutir temas delicados como dinheiro por medo de parecer frios. Mas ignorar a realidade não torna a relação mais romântica – apenas mais vulnerável. erosguia
Casar sem comunhão de bens não precisa ser visto como um sinal de desconfiança, mas sim como uma escolha consciente, baseada em diálogo, respeito e planejamento. Quando o amor é forte, ele não se abala por uma conversa sobre finanças – ele se fortalece.
Afinal, o verdadeiro compromisso começa antes do altar. E talvez o “sim” mais importante seja aquele dito de frente para a realidade.
Fonte: Izabelly Mendes.